História da Madeira. Séc. XX – O Caminho para a Autonomia
A obra já se encontra à venda na Gaudeamus, na Fnac, na Wook, na Bertrand (online e lojas) e noutros livreiros nacionais e regionais.
Este mês será apresentado o 6.º volume da colecção História da Madeira, obra editada com o objectivo de celebrar os 600 anos do início do povoamento da Madeira. Com o apoio da Secretaria Regional de Turismo e Cultura, a obra traça com detalhe a realidade insular durante o séc. XX, sendo acompanhada com cerca de 200 ilustrações e várias notas explicativas. Pretende-se, com isso, tornar a nossa História acessível a todo o público, incluindo o infanto-juvenil, sem comprometer o rigor científico que apresenta décadas de investigação do autor.
A Madeira foi instituída no início do século XVI como diocese dos descobrimentos e das conquistas da Expansão portuguesa, com a sagração da sé do Funchal em 1517 e a elevação da mesma a sede de arcebispado, em 1533, embora por pouco tempo.
O século XX representou uma etapa crucial da História da Madeira. A eleição de Manuel de Arriaga como deputado às Cortes do Reino pelo círculo do Funchal, ainda no século XIX, faria da Madeira um bastião republicano no Portugal monárquico. Não obstante a visita de D. Carlos e de D. Amélia aos arquipélagos da Madeira e dos Açores, os madeirenses estariam na linha da frente na construção da República Portuguesa, destacando-se, entre outras personalidades, o sr. (visconde da) Ribeira Brava. Em 1910, a cidade via uma das suas equipas, o Marítimo, envergar faixas verdes-rubras como viria a ser a bandeira nacional a adoptar. Poucos meses depois, a Madeira era informada que, em Lisboa, a monarquia havia cessado e o país passara a República. A 1.ª República, entre a instabilidade política e o surto de cólera, iniciou a projectar a modernização do Funchal, como os estudos dos irmãos Trigo e de Miguel Ventura Terra. Porém esse processo foi adiado pelo esforço exigido à nação pela entrada na Grande Guerra. Período particularmente difícil, o conflito agravou a situação económica do país e o Funchal, pela sua importância estratégica para os Aliados, tornou-se porto de abastecimento para uns e alvo a abater para outros, dando-se, mesmo bombardeamentos por submarinos alemães em 1916 e 1917, ambos em dezembro.
Finda a Guerra, o Funchal acolhe o deposto e exilado imperador-rei Carlos da Áustria-Hungria e a sua família, que falecendo em odor de santidade, motivaria a primeira visita papal à Madeira, em 1991, para sua beatificação. Em 1923, a cidade comemoraria o V centenário do descobrimento da Madeira, nas décadas seguintes, vários intelectuais e artistas fariam nascer um interesse crescente pela história e cultura do arquipélago.
Em 1925, um jovem ilustre professor de economia da Universidade de Coimbra faria várias conferências no Funchal. Chama-se António de Oliveira Salazar e acabaria por encontrar grande apoio entre os madeirenses que ansiavam por uma mudança de paradigma político numa República que havia falhado em grande parte das suas promessas.
A década de 1930, com a República Nova, foi profundamente marcada por sucessivas revoltas na Madeira que chegaram a ecoar no império ultramarino português. A Revolta das Farinhas, o Pronunciamento Militar (Revolta da Madeira) e a Revolta do Leite causaram grandes transtornos ao regime militar que governava a partir de Lisboa. Entretanto, a Europa preparava-se para mais um conflito armado, a II Guerra Mundial, mantendo Portugal uma neutralidade colaborante. A Madeira foi fotografada pelo dirigível alemão Graf Zeppelin, suscitando interesse estratégico de ambas as partes. Acolheram-se em hotéis, quintas e outras propriedades, gentes de ambos os lados do conflito, com especial interesse gibraltinos, judeus e membros da Juventude Hitleriana e do partido Nazi alemão.
Até aos anos 1960, a cidade e as vilas da Madeira reorganizam-se na bitola do Estado Novo, chegando a ser visitadas por altas figuras da Nação como os presidentes da República, Marechal Carmona e General Craveiro Lopes, e o Patriarca de Lisboa, Cardeal Cerejeira, e ainda ilustres estrangeiros, o mais marcante dos quais Sir Winston Churchill.
Se do ponto de vista político-administrativo, a Madeira pouca auto-suficiência conseguiu durante a Ditadura, o mesmo não aconteceu com a Revolução dos Cravos. Se o 25 de Abril de 1974, pouco foi sentido na Madeira, o mesmo não se poderá dizer do Primeiro de Maio desse mesmo ano. Os madeirenses, em enormes manifestações populares, juntaram-se ao resto do país para exigir o fim da guerra colonial e a realização de eleições livres. Recordavam ainda aos responsáveis políticos que a Madeira não era caixote do lixo de Portugal pelo que, do Palácio de São Lourenço, deveriam ser expulsos os governantes depostos Américo Tomás, Marcelo Caetano e alguns ex-ministros, entretanto trazidos de Lisboa.
Com a moderna República, a autonomização da Madeira, acalentada quase desde o início do século XIX, teve finalmente o início desejado. Mesmo com alguns movimentos independentistas algo mais radicais, a pouco e pouco, os arquipélagos da Madeira e dos Açores conseguiram a obtenção de órgãos de poder próprio, com a criação das suas assembleias legislativas e dos seus governos regionais, respondedores à Assembleia da República Portuguesa e não ao Governo nacional.
O século XX viu o florescimento da Madeira como região ultraperiférica da Europa. Portos, aeroportos e estradas foram melhorados. Foi criada uma zona franca e desenvolveu-se o tecido industrial e comercial. Desenvolveram-se as áreas urbanas e delimitaram-se áreas naturais protegidas. Finalmente, criaram-se novas instituições públicas, uma das quais a própria Universidade da Madeira.
Foram os últimos 100 anos de uma história de 6 séculos de desenvolvimento que trouxeram a Madeira ao nosso tempo.